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O Tempo e a Terra: Memórias do meu Mundo já Quase Esquecido


Laranjeiras do Sul, 28 de Julho de 2025.


  Nasci em 1972, em um lugarejo chamado Sede Nova, hoje Doutor Antonio Paranhos. Era um mundo sem pressa e sem recursos, onde a vida brotava entre a poeira vermelha do chão e a fumaça azulada dos fogões a lenha. Não havia água encanada, nem eletricidade, e muitas vezes nem mesmo lenha suficiente para alimentar o fogo das panelas. 

    Tudo era contado, poupado, preservado com o zelo de quem sabe o valor de cada fósforo, de cada gota de querosene, de cada vela de parafina.

  As casas de tábuas de madeira, pequenas e humildes, abrigavam grandes famílias com móveis escassos e roupas que passavam de um irmão para o outro, assim como os livros, que migravam entre primos, vizinhos e colegas de escola. 

    Frutas e verduras só se comiam nas épocas certas, maçãs, peras, pêssegos, laranjas, abóboras e batatas, a carne era um luxo reservado para festas ou dias muito especiais. 

    A feira era ou o rancho semanal feita com cuidado: meio quilo de farinha, uma lata de óleo, algumas moedas de cevada. 

Somente o necessário, nada mais.


    Banheiro dentro de casa era privilégio raro. 

    E as fraldas descartáveis? Não existiam. 

Os bebês eram embrulhados em pedaços de pano velho até que aprendessem a andar. 


    A escola, uma velha casa de madeira, recebia os alunos com os pés descalços, os cabelos revoltos, muitas vezes os rostos ainda marcados pelo sono e as remelas. 

O banheiro, improvisado sob as árvores, ficava afastado, e a vergonha era menor que a necessidade.

  

    Quando a saúde falhava, não se corria ao hospital. 

Os remédios vinham da terra: chás, benzimentos e a sabedoria de uma santa mulher da comunidade que fazia as vezes de enfermeira, parteira e benzedeira. 

Era ela quem curava as feridas, aliviava as febres, aplicava injeções com mãos de mãe e coração de anjo.

  

Férias? Um conceito desconhecido. 

Os poucos dias de descanso eram usados para reformas na casa ou ajuda nas lavouras. 


Desde muito cedo, as crianças aprendiam a trabalhar. Colhiam pasto, buscavam água na mina, catavam lenha, limpavam a casa, iam até a venda comprar apenas o essencial. 

A palavra “não” era quase um pecado, e o respeito aos mais velhos era uma lei silenciosa, inquestionável. 


    Os professores eram figuras quase sagradas, mesmo que a autoridade viesse acompanhada de algumas reguadas bem dadas.

  As roupas eram poucas: a da semana e a do domingo. 

Os almoços de fim de semana, simples: arroz, de vez em quando uma maionese, talvez um frango se houvesse sorte. 


    Carro? Somente o de bois, que levava tudo o que era necessário para sustentar uma casa no campo. 

E cada membro da família tinha um papel, uma função, até as crianças sabiam que seu suor era parte da sobrevivência do lar.

  As mulheres davam à luz em casa, com a ajuda da parteira. 


Famílias numerosas não eram exceção, eram regra. 

E todos trabalhavam sonhando com uma aposentadoria distante, um benefício que parecia inalcançável. 

Não havia auxílio, nem proteção social. Ou se vivia trabalhando, ou se morria tentando.


Mas então… tudo mudou.


Hoje, o que se vê são banquetes e desperdícios, mansões e carrões, uma fartura que grita em contraste com o vazio espiritual de muitos. 

  Nunca o mundo teve tantos direitos, tantas facilidades. 


E mesmo assim, nunca se reclamou tanto da vida. 

A ironia salta aos olhos de quem vem lá de trás.

  O que sabem essas novas gerações sobre viver há cinquenta ou sessenta anos? 

Sobre mijar no penico, lavar roupa na mão, usar o mesmo livro e o caderno do irmão mais velho? 

Talvez seja pedagógico, sim, ensinar-lhes esse passado, mesmo que alguns da minha geração se recusem a admitir tais memórias com um sorriso encabulado no canto da boca.

  

    Rimos, talvez por vergonha, talvez por saudade. Mas a verdade é simples: 

só quem conhece o ontem pode entender o valor do hoje.

    A vida há cinquenta ou sessenta anos era simples, mas cheia de desafios. 

É importante lembrar e valorizar a simplicidade e a gratidão pelo que temos hoje.   

    Ensinar às novas gerações sobre os caminhos que percorremos é fundamental para construir um futuro melhor.


(Texto de Osvaldir Pedroso)

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